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A Zona Sul já esteve entre os sete dos dez distritos com mais mortes em SP devido a COVID-19, segundo mapa divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, a Cidade Ademar já liderou entre os bairros na Zona Sul com número de mais de 200 mortes.

Nossa quebrada é habitada por mais de 300 mil pessoas, das quais mais de 50 mil vivem em favelas. O bairro mais influente do distrito de Cidade Ademar, é o Jardim Míriam, com cerca de 100 mil habitantes onde 20 mil deles são moradores de mais de 24 em favelas em torno do Jardim Miriam. A situação dos moradores após a pandemia da COVID-19 foi escancarada, é só pegar o mapa da pobreza e colocar em cima, a Zona Sul de São Paulo é a que mais apresenta falta de estrutura estatal, o descaso por parte da sociedade civil é gritante, são moradores que nos procuram sem recurso básico de sobrevivência, e sem condições mínimas de higienização para suportar a situação de uma quarentena minimamente possível, não tem água nas casas para lavar as mãos, existe uma real necessidade de ações específicas para combater a doença nas quebradas.

Desde início da quarentena as pessoas não estão olhando com seriedade para doença, e muitas delas não tem sequer condições de colaborar com as medidas para se combater a pandemia, por isso a implantação do Projeto de Agentes de Saúde tem sido essencial para que as famílias possam ter condições sociais mínimas de um isolamento, e isso foi possível porque olhamos o isolamento social dentro das periferias como medida de saúde pública.

O ato de cuidar dos seus iguais desde fornecimento diário de marmitex para os moradores em situação de rua à aferição da temperatura, tem sido importante para salvar vidas, esses moradores poderiam ter morrido de fome, ter contraído o vírus e sequer saber, não existe um setor de acolhimento para essas pessoas no bairro, quem vai medir a temperatura de uma pessoa em situação de rua? O projeto forneceu o termômetro em modelo digital para que a gente conseguisse pelo menos saber se eles estão febre.

“Macarrão”, um dos homens mais conhecidos em situação de rua e antigo do bairro, desde início da pandemia retira marmitex, e vive sozinho sem familiares, passou mal na fila da distribuição de alimentação que acontece na sede do Pagode Na Disciplina, no Jardim Miriam e nós medimos a saturação e febre, ele foi direcionado para o hospital com início de infarto, ele podia ter chego à óbito aqui, na fila e na nossa frente. Leticia, Agente Popular de Saúde do bairro já atendeu cerca de 50 de pessoas  entre pessoas com suspeita e casos confirmados de COVID-19.

Aqui no nosso núcleo atendemos um total de 600 famílias, são famílias que foram cadastradas desde início da pandemia, para assistência em todos pilares que envolvem a doença, entregas de cestas básicas, fraldas, leite, produtos de higiene e até medicamentos. O Jardim Miriam apresenta um número significativo de favelas e as pessoas em situação de rua e pessoas em situação de extrema pobreza tem crescido absurdamente, um bairro cercado por favelas e autoconstruções onde moradores disputam espaço nas calçadas e porta dos locais pedindo comida para sobreviver.

O projeto Agentes Populares de Saúde dentro da nossa comunidade pode salvar vidas, vidas de pessoas que foram paralisadas, trabalho interrompido e sem condições de manter seus familiares com dignidade. Quando penso na relevância do projeto e entre tantas histórias me lembro de Elaine, uma das muitas mães atendidas no núcleo, relata que recebeu auxílio emergencial do governo e diz que a única preocupação dela no contexto de desemprego dela e do seu companheiro era pagar o aluguel e mistura, porque com a cesta básica fornecida pela Uneafro, leite e fralda para a filhinha de 2 anos tem sido uma alívio nas despesas dela.

O Núcleo Pagode Na Disciplina está a 212 dias ininterruptos entregando marmitex aos moradores de rua e pessoas em situação de extrema vulnerabilidade no Jardim Miriam, cerca de 18 mil marmitex até o momento. 

Leticia dos Santos. 32 anos, moradora da região do Jardim Miriam Z/S São Paulo. Estudante de Relações internacionais, pela Universidade Estácio de Sá.  Ativista no projeto de roda de samba Pagode na Disciplina e Agente Popular de Saúde pela Uneafro Brasil.

Luana Vieira. Mãe, nascida e criada na zona sul de São Paulo. Militante, graduada em recursos humanos e graduanda em Direito pela EPD – Escola Paulista de Direito. Gestora executiva do projeto sócio-cultural Comunidade Pagode Na Disciplina Jardim Miriam, e em 2019 foi diretora do documentário “Na Disciplina, samba e cidadania”. No mesmo território, Jd. Miriam, é idealizadora da primeira Biblioteca Comunitária com temáticas raciais. Coordenadora da Uneafro Brasil, articuladora geral na Coalizão Negra por Direitos. Atua no Fórum de Cultura Cidade Ademar, na zona Sul e no Fórum de Cultura das Comunidades de Rodas de Samba e Terreiro do Estado de São Paulo. Membra Estagiária CIR – Comissão Igualdade Racial -SP. Co-autora do Livro “Inovação Ancestral de Mulheres Negras” , lançado em 2018 pela Editora Oralituras, organizado por Bianca Santana . Atualmente, levantando discussões e temas voltados à falta de representatividade mulheres negras em espaços culturais periféricos, sobretudo em rodas de samba.

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